Três causas
Sempre me fascina a existência de aparente irracionalidade em decisões. Sem ter absoluta certeza (não sei bem o que seja), estou convencido de que há sempre alguma racionalidade nas escolhas que não resultem de reações instantâneas a estímulos súbitos ou violentos. Sempre que há algum tempo para refletir, as escolhas têm necessariamente uma componente de reflexão.No caso das escolhas políticas, quando os eleitores votam, há uma situação de adição que aparenta pouca racionalidade, referida noutro post sobre a criação da plataforma anti-moscas na política. Ora, face aos resultados que se verificam numa enorme quantidade de países que possuem regimes ditos democráticos, de corrupção muitas vezes impune, algumas até nem sequer previstas nalgum quadro penal, a interrogação impõe-se: que causas levam a que os eleitores não aprendam com os resultados evidentes das suas escolhas anteriores?
Num exercício preliminar de sistematização que carece de aprofundamento, identifico três possibilidades que não desenvolvo para já e que registo apenas para memória futura de referência para desenvolvimentos:
a) falta de informação: os resultados podem não ser tão evidentes assim,por manipulação da comunicação social, por exemplo, ou a ligação entre os candidatos a uma dada eleição e as práticas de corrupção pode não ser evidente;
b) valores éticos: o eleitor que decide com aparente irracionalidade cultiva os mesmos valores éticos dos eleitos corruptos. Em circunstâncias semelhantes, com oportunidades equivalentes, teria as mesmas práticas de corrupção, podendo mesmo ter uma secreta ambição de um dia estar em condições de fazer o mesmo que os corruptos;
c) medo: pode ser de duas naturezas. Uma, resultante de coação ativa e potencialmente violenta por parte dos corruptos. Outra, mesmo quando há escolhas alternativas, o difuso receio de que os corruptos arranjariam maneira de tornar a vida social e económica num inferno pior se não fossem eleitos.
Pronto. Para já, enquanto houver nuvem já não me esqueço deste princípio de reflexão.