segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Empobrecimento nas universidades - uma proposta singelamente revolucionária

Há que ser realista.
Por um lado, o governo porfia na aplicação disciplinada e rigorosa do plano neoliberal para o mundo nos próximos anos. Quanto mais espoliar, melhor. Não se podem esperar facilidades. Empobrecer é a palavra de ordem. Não se sabe, apenas, se alguém está a fazer cálculos para determinar o limite de empobrecimento que ainda permite extrair riqueza aos empobrecidos. Porque há um limite, mas a agenda neoliberal parece ignorá-lo, para já. Deixá-lo, dirão. Amanhã logo se verá, confiam, por certo.
Entretanto, nestas circunstâncias, há que procurar empobrecer inteligentemente. Tenho uma proposta.
Sabe-se que a lei de financiamento do ensino superior já não é aplicada há três anos. Sua excelência Mariano e sua excelência Crato ignoram esfingicamente que a lei Pedro Lynce estipula que o financiamento se faz por fórmula. Assim, como a dotação é calculada com base no histórico, com variações negativas sucessivas, ainda por cima, não há qualquer justificação plausível para que as universidades admitam novos alunos.
A minha proposta é, por conseguinte, muito simples: no próximo concurso nacional de acesso, as universidades não devem abrir vagas. As consequências positivas são várias:
1- diminui a quantidade de licenciados à procura de emprego daqui a três anos.
2- diminui a quantidade de alunos a que os poucos (cada vez em menor número) e envelhecidos  (cada vez mais velhos) docentes têm que tratar de todo o processo administrativo académico sobre as plataformas informáticas que em boa hora foram sendo operacionalizadas.
3- acaba-se a praxe, pelo menos por um ano.
4- os graduados que andam à procura de emprego terão menos concorrência daqui a três ou quatro ou cinco anos.
5- diminui a prazo a pressão emigratória de graduados.
6- o financiamento por aluno não diminui tanto no próximo ano, apesar do corte adicional que aí virá.
7- a retribuição dos docentes ficará um pouco menos deficitária por via da ligeira diminuição do volume de trabalho.
8- devido ao efeito referido no ponto 7, entre o trabalho e a gestão das finanças pessoais, os docentes talvez encontrem um par de horas para ainda tentarem publicar mais alguma coisa que evite a derrocada da produção científica, apesar de não terem financiamento para a ciência (recorde-se que o abaixamento da remuneração faz descer para níveis ainda mais miseráveis os proveitos que se conseguem obter por via da imputação de mão-de-obra nos projectos europeus).
Com este rol de vantagens, só não vê quem não quer ver. Fica a proposta. Ao CRUP, às universidades, aos Reitores. Era de homens. Mesmo quando se trata de mulheres.